sábado, 19 de junho de 2004

Sobre a prece

"Entretanto, certo dia, surpreendidos, perceberam que suave raio de luz, qual réstea de sol tonificante e alentadora, se projetava docemente sobre suas almas delinquentes, blasfemas. Guido de Vicênzio, aterrorizado com o acontecimento insólito, emitiu um brado de maldição e blasfêmia e fugiu espavorido, tremente, já se não sentindo prisioneiro, uma vez reconhecendo a porta aberta...

Léon, porém, deixou-se permanecer onde se encontrava, estirado sobre as lajes imundas, onde agonizara seu desgraçado gêmeo... Sentia-se exausto! Carecia, sem mais delongas, de repouso e consolo! Contudido por um acervo de dores insolúveis, inconsoláveis; (...) Aquietado, deixou que o consolativo raio de luz o envolvesse, retemperando-lhe as forças deprimidas, aplicando-lhe, na alma calcinada pelo sofrimento, sedativos benfazejos... Eis, porém, que, à sua audição exausta das algaravias das blasfêmias, dúlcidos sussurros se impuseram, quais abendiçoadas expressões de amor... e, como se transportado por visão celeste, vislumbrou indecisamente, como refletido na réstea de sol que o visitava, um vulto de religiosa a orar fervorosamente por ele próprio, à frente de um altar...

Nessa religiosa, pálida, esmaecida, envelhecida, cujos olhos tristes e apagados vertiam lágrimas lentas, que lhe inundavam as faces, reconheceu Adélia... Adélia! por cujo amor se desgraçara! Nenhum alvoroço em suas sensibilidades depois de tantas desgraças! Nenhuma súplica ou brado de revolta, ao entrevê-la!... Apenas duas lágrimas, suaves, resignadas, orvalharam seus doridos olhos espirituais:
"...e envolvei a sua alma torturada nas graças da vossa misericórdia, ó Grande e Poderoso Deus! concedendo-lhe ensejo para a salvação..." - dizia a antiga dama de Mântua, sinceramente compungida...

A pouco e pouco a imagem idolatrada se afastava, ausentando-se do circuito luminoso que o envolvia... Agora, porém, surgia Marta, a boa serva que lhe fora mãe afetuosa... Trazia uma braçada de flores, frescas e perfumosas... Viu-se, inexplicavelmente, sempre aquecido pelo doce raio de luz benfazeja, acompanhando-a lado a lado, humildemente, como nos tempos de menino..."


Tantos e tantos relatos do efeito da prece podem ser encontrados...
Esse me é muito caro, falando de Léon, um suicida... e está no livro Amor e Ódio, de Yvonne do Amaral Pereira.
Luzes e estrelas, raios vivificantes, todas as preces cruzando o espaço, encontrando, onde quer que estejam, aqueles por quem oramos...
Seja esse teu momento de estender a luz sobre alguém...

Brisas perfumadas...
Um sopro de esperança!
Raios de sol, toda luz, sobre ti!
Meu amor!

Carla

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