quinta-feira, 11 de maio de 2006

Guarda-chuva e coração abertos...

Há muitos anos, andava eu feliz pela rua com o meu guarda-chuva rosa!
Adorava aquele guarda-chuva! Era quase do meu tamanho, enorme, de um rosa bebê irresistível!
Naquele dia, chovia, para minha alegria, pois poderia utilizar o guarda-chuva rosa para a finalidade primeira dele (independente de chuva, eu o usava como cajado para subir as escadas e marcava meu passo nas ruas, nos vinte minutos de caminhada que separavam minha casa da escola, fazendo ressoar um toc-toc pelas calçadas desertas nos primeiros minutos depois das seis e trinta, pela manhã...).
Mas dizia que chovia!
Uma chuva deliciosa que me fazia encolher toda dentro do guarda-chuva rosa! Já disse que ele era enorme? Pois tão grande que mal conseguia enxergar o que vinha na rua, só meus sapatos mesmo...
E nesse vero dia... aconteceu!
Um encontrão com algo também muito grande (seria um poste? mas não havia poste ali!?!). Não era um poste.
Levantei levemente o guarda-chuva e pude ver a pessoa abalrroada pela minha imprudência. Era um guarda!
Não sei se pela minha cara de espanto e medo, ou se pela candura do tal guarda-chuva rosa, a fúria dele esvaneceu e, muito sério, ele me disse:

- Não adianta ter um guarda-chuva! Tem que saber usar!



Hoje lembro o guarda-chuva rosa como alegoria para as coisas que temos. Não tanto as materiais, mas as espirituais. As qualidades que já conquistamos...

Há guarda-chuvas rosas de tantas cores!

Uma dessas cores é a capacidade de sonhar!
Tão bela essa cor... Sonhos dormidos ou acordados, tão reais!

Mas, como no meu caso do guarda-chuva rosa, não basta ter.
Tem que saber usar... usar sem ferir ninguém, usar de modo a fazer render e realizar!
Saber interpretar, mudando o jeito de ver (a la "Sociedade dos Poetas Mortos", subindo na mesa e dizendo: Hey Captain, my Captain!).

Há uma frase atribuída a Goethe que diz que, "quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor." Se pararmos para pensar com cuidado em todos os momentos importantes de nossa vida, veremos que realmente assim ocorre.

Outra cor é o tempo...
Nada mais frustrante de estar com tudo pronto, na hora errada...
E o pronto, novamente, refere-se ao interior, a nós mesmos...
Quantas vezes buscamos tanto um amor, e simplesmente nós ainda não estamos prontos!

São de Gibran essas palavras:
"Todavia, se no vosso temor,
Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor,
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez
E abandonásseis a eira do amor,
Para entrar num mundo sem estações,
Onde rireis, mas não todos os vossos risos,
E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá senão de si próprio e nada recebe senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir.
Porque o amor basta-se a si mesmo."

O amor basta-se a si mesmo, diz Gibran.
O amor deve ser outra cor do guarda-chuva rosa...
É preciso estar em paz consigo, estar pleno para dar, para viver em plenitude o amor, quando ele chegar.
É preciso a casa limpa, o chão atapetado de flores, como nos lembra Tagore.
É preciso preparar os jardins, para que cheguem as borboletas. Achava tão ruim essa mensagem, porque na minha ansiedade, não queria esperar. Era ainda imatura. Ainda sou, para tantas coisas...

Amar-se, cuidar-se...
Apaixonar-se por si!
Brilhar!
Deixar que os guarda-chuvas rosas coloridos se espalhem em nossa vida!
E sejam usados, faça chuva ou faça sol. Bem usados.
E o coração assim aberto esteja protegido pela alegria de viver!

Desejos de sóis brilhantes e
Guarda-chuvas coloridos nos dias de crise, de chuva!

Deus proteja a todos!
Graças sempre por tudo!
Toda paz, todo carinho!
Brisas

Carla

3 comentários:

  1. “O amor é uma questão de timing: de nada vale encontrar a pessoa certa muito cedo ou muito tarde.” - Mr. Chow, 2046

    Depois de todas as burradas, depois de todas as escolhas, depois de todos os caminhos, depois das nostalgias, finalmente, descobri que nada eu sei. Porém estou aqui e estou vivo, e sinto o mundo, sinto as pessoas. Já não me rebato mais e as "tias já podem me soltar" pois estou mais calmo. Será que é a idade?

    Droga, usei o teu espaço para divagar... ultimamente tem sido um delírio atrás do outro ;-)

    Uma lambida

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  2. Texto perfeito. Um dos mais lindos que já li. Beijos com carinho,
    Vivi

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  3. Gostei. Sensível e estético.
    Me visita:
    http//sitiodagaia-gaia.blogspot.com

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